Degeneração laboral

Obama contactou hoje Arménio Carlos:

BO - Arménio, como está a adesão à tua greve geral?

AC - Está a correr bem!

BO - Vais fazer alguma declaração oficial brevemente?

AC - Sim sim, claro. O Presidente sabe bem como estas declarações são importantes. Isto está a ser um sucesso! Portugal está parado. A adesão deve andar muito perto dos 100%.

BO - Ainda bem.

AC - Devia vir a Lisboa ver isto! Esqueça, depois não podia aterrar porque está tudo em greve, e mesmo que aterrasse não tinha transporte.

BO - Pois imagino. E para quando a declaração? É que preciso de informar a malta das bolsas, porque como sabes está tudo à espera das tuas declarações.

AC - Presidente, não me ponha essa pressão em cima.

BO - Mas eu não tenho culpa das tuas declarações e acções terem este impacto nos mercados mundiais. O mérito é todo teu!

AC - Bem, se assim o diz.

BO - Não seja modesto, meu caro.

AC - Não se trata de modéstia. Sabe, é que eu não lido muito bem com a pressão.

BO - Se quiseres envio-te um dos meus assessores políticos durante uns tempos. Isto com o Romney também não me parece que venha a ser difícil.

AC - Obrigado presidente. Mas o meu problema tem mais a ver com o facto de não estar habituado a aparecer em público.

BO - Também tenho assessores de moda se quiseres. Para me vestir melhor que o Romney não preciso de assessores.

AC - Não está a perceber, Presidente. É que estar nesta posição de liderança altera tudo o que fiz a vida inteira. Que se resumia a espicaçar o Carvalho da Silva para ser ele a dizer as maiores alarvidades possíveis sobre os direitos laborais de forma a manter os trabalhadores enganados com falinhas mansas e mentiras. Agora que ele não está cá para dar a cara e acho que as pessoas não estão a aderir à minha forma de ser.

BO - Meu querido Arménio, lá estás tu com essa modéstia extrema. Ainda agora me disseste que a greve está a ser um sucesso e que Portugal está parado. Que mais querias? O Jerónimo como primeiro ministro?

AC - Queria, por uma vez, conseguir influenciar verdadeiramente os trabalhadores. Fazê-los acreditar em mim!

BO - Não me digas que me estiveste a mentir?

AC - Oh presidente, isto já é uma degeneração laboral...

BO - Uma quê?

AC - Degeneração laboral. Passei a minha vida toda nisto, de mentira em mentira. Sabe lá o que tive que inventar ao longo destes anos para o Carvalho da Silva ter sempre argumentos contra todas as medidas. Foram 25 anos! Acho que já não consigo dizer verdades...

BO - Mas há greve geral em Portugal como me disseste há uma semana atrás, ou não?

AC - Sim... Pelo menos, estava marcada...

BO - Isso quer dizer que...que não houve adesão?

AC - O quê?? Claro que houve! Uma adesão fantástica! Isto está tudo parado, devia vir cá para ver...

BO - Olha lá, em Portugal ainda há SNS, não há?

AC - Claro, isso é um dos mais importantes direitos adquiridos e nunca deixaremos cair esse estandarte do estado social!

BO - Então se queres um conselho, pede mas é para te internarem.

AC - O quê? Eu internado? Só porque fui apanhado por um vício de trabalho? Eu devia era ser um exemplo de dedicação e um exemplo dos malefícios que o trabalho pode criar. Ainda mais agora com a afronta brutal aos direitos adquiridos dos trabalhadores. Querem aumentar a produtividade, penalizar quem não cumpre objectivos, dar a possibilidade das empresas dispensar trabalhadores quando não há trabalho, possibilitar o despedimento dos incompetentes, onde é que isto já se viu?

....

AC - Está-me a ouvir, presidente?

....

(desabafando para o cão de água português)

BO - Coitado do Arménio. Bom, ao menos tu és um bom exemplar da raça. Tu e aquele senhor que esteve aqui há uns dias em NY. As bolsas que abram que este tipo bem me enganou...

Conclusão:

Mais uma vez a greve dita geral mais não foi que a concertação de um bando de parolos para tentar dificultar a vida a quem trabalha. Parolos esses, que são os que mais direitos têm. Sintomático. Obrigado Arménio, isto sem ti não tinha a mesma piada.